O Esoterismo Ocidental constituiu-se durante as últimas décadas um indiscutível campo de conhecimento académico, fundamental para a compreensão da História das Ideias. Pode ser definido como um “padrão de pensamento” com as suas raízes na filosofia helénica, em particular o Gnosticismo, Hermetismo e Neoplatonismo.
No Renascimento a redescoberta de textos antigos levou a um revivalismo de correntes filosóficas esotéricas e a um interesse no estudo da magia, Astrologia, Alquimia e Cabala. Depois da Reforma, estas correntes deram origem à Teosofia Cristã, Rosacrucianismo e Maçonaria. Mais tarde, assumiriam uma forma mais moderna com a Teosofia de Blavatsky, ordens cerimoniais mágicas, a Rosacruz moderna, a Antroposofia de Rudolf Steiner ou mesmo a psicologia de Carl Jung. Desde a Antiguidade até aos dias de hoje estas correntes nunca deixaram de estar presentes e de ter uma relação dinâmica com momentos-chave da nossa cultura.
Expulsas da Academia com grande vigor durante o período do Protestantismo e mais tarde do Iluminismo, estas tradições têm sido percebidas como “O Outro” contra o qual académicos e religiosos têm construído as suas identidades. Depois do Iluminismo passou a ser academicamente inaceitável estudar “pseudo-filosofias” dentro das quais podemos localizar as correntes do Esoterismo Ocidental. Apenas alguns estudiosos amadores escrevem sobre essas correntes, resultando numa literatura híbrida cheia de erros históricos e conceções erradas. O “oculto” deixa de ser um assunto digno de um académico. Essa tendência chegou até ao séc. XX, e só nas últimas décadas se observa um esforço por regenerar o estudo do “conhecimento rejeitado”.
Na tentativa de delimitar científica e metodologicamente este campo de conhecimento, autores como Antoine Faivre e Wouter Hanegraaff têm contribuído de forma fundamental para o seu avanço, propondo um conjunto de características que nos ajudam a identificar correntes e tradições esotéricas, além de sugerirem uma metodologia rigorosa, baseada no método científico e pautada por aquilo que a podemos chamar de “agnosticismo metodológico”. Nesse contexto, não cabe a um estudante de Esoterismo Ocidental expressar crenças pessoais ou interpretações subjetivas, mas antes identificar histórica e filosoficamente correntes e tradições que partilhem dessas características entre si e compreender melhor o papel que eventualmente tiveram na construção da cultura ocidental.
Atualmente existem em todo o mundo poucas universidades que oferecem programas na área de Esoterismo Ocidental, sendo a principal a Universidade de Amesterdão com um programa completo, desde a Licenciatura até ao Doutoramento. A Universidade Lusófona surge como uma candidata a integrar este painel de universidades pioneiras, trabalhando para desenvolver ativamente uma área de ensino e investigação neste campo emergente.
Este congresso pretende aprofundar e contribuir para o avanço nessa área, assim como para a definição e delimitação científica do Esoterismo Ocidental enquanto disciplina académica, explorando as várias expressões que estas tradições foram tendo ao longo da história até à atualidade.
O Presidente da Comissão Organizadora,
Rui Lomelino de Freitas
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